Não rolou news em novembro, mas o motivo é bom: reunimos nossas leituras, músicas e filmes favoritos em uma edição de melhores do ano, que compartilha também o nosso último diálogo de 2024. Conversamos com a Yasmin Sanchez, artista autodidata cujo trabalho explora temas como identidade, feminilidade e memória. Quer ler a news de outubro? É só clicar aqui.
Dois avisos rapidinhos: 1º) a Ju, diva que edita os nossos vídeos, participa dessa news indicando seus preferidos do ano, dando uma forcinha pra Isa, que está de férias; 2º) Nos ajude a construir uma news ainda melhor em 2025, responda à nossa pesquisa de opinião <3
⬇️ Bora falar de coisa boa?
Diálogos /// Beatriz Vitório conversa com Yasmin Sanchez
Yasmin Sanchez nasceu em São Paulo, mas passou sua infância em Minas Gerais. Na adolescência, mudou-se para Franca (SP) para jogar vôlei e foi nesse período de transição que teve seu primeiro contato com o graffiti, se apaixonando pela arte visual urbana. Desde pequena, esteve cercada por arte e foi através do incentivo dos avós que começou a se envolver com artesanato, crochê, bordado e desenho. O contato com diferentes expressões artísticas alimentou de forma silenciosa o sonho de ser artista, um desejo que, mesmo distante, sempre existiu. Após parar de jogar vôlei, Yasmin se dedicou inteiramente à arte, mas não deixou de usar o esporte como referência para suas criações. Hoje, ela se autointitula como artista-atleta.
“Eu gosto de observar a cidade de várias maneiras. Apesar de ter parado de jogar vôlei, o esporte é uma válvula de escape na minha vida. Ele me fez ir para outros lugares e conhecer novas pessoas. Então eu acho que isso, a observação da cidade e esse olhar atento que o graffiti trouxe me inspiram.”


Corpo no mundo
Em seu processo criativo, Yas traz como referência sua avó e a memória afetiva que a conecta ao tempo em que morava no interior de Minas. É nesse diálogo entre o rural e o urbano que habita a coragem de uma jovem que decidiu acreditar na sua arte e carregar seus sonhos, sem abrir mão das lembranças que construíram a sua identidade.


Memória e Identidade
“Eu sempre fui muito fã da cultura popular, da cultura do interior. Coisas de renda, bolinhas, coisas fofinhas de casa de vó. Eu acho que cultuar a memória é uma coisa que gosto de abraçar e estudar. A última exposição que fiz foi um pequeno recorte da minha infância, chamada Memórias de Ontem. Ela traz um traço do interior, mas também um olhar sensível para rua e para o lugar que ocupo.”
Você pode conhecer mais sobre Yasmin acompanhando o trabalho dela nas redes sociais. Clique aqui para segui-la.
Amamos em 2024 /// Nossos livros, músicas e filmes favoritos
LEITURAS ★ Socorro Acioli se fez presente nas minhas melhores leituras desse ano. Reli A cabeça do santo (que é um dos meus favoritos desde 2018) e Oração para Desaparecer, que foi me ganhando aos pouquinhos até se tornar favorito. Assim como eu, Cida e Samuel estão em um processo de autoconhecimento cercado de questionamentos sobre passado, presente, futuro, amor, família, amizades, etc. Não consigo descrever a sensação que foi encontrar a Socorro no final de novembro e TENTAR explicar o quanto ela e esses livros são importantes pra mim. Deixo aqui meu trecho favorito de Oração para desaparecer na esperança de que também faça sentido pra vocês: “Amar com coragem é dizer sim à vida.”
MÚSICAS ★ Sempre tenho dificuldade em falar sobre coisas favoritas e quando o assunto é música me sinto INCAPAZ de escolher apenas uma. BK e Jorge Ben Jor continuaram sendo os meus artistas mais escutados, mas as músicas mais significativas não apareceram na retrospectiva do Spotify. Banzo do Jota.pê foi responsável por todos os meus chorinhos musicais, junto de Medo De Quase Nada do LEALL. Parece que as duas músicas conversam entre si com o intuito de acalmar e encorajar a Bia criança e a Bia adulta.
FILMES ★ Avaliado no Letterboxd como Past Lives (Robot’s version), Robot Dreams (2023) foi o meu queridinho do ano. Tudo nele me faz ficar encantada e muito emocionada. Os acontecimentos marcados pelas estações do ano, a paciência e a esperança no futuro e tudo isso ao som de September, do Earth, Wind & Fire, é EXTREMAMENTE ESPECIAL. Simplesmente incrível como no silêncio tanta coisa consegue ser explicada.
LEITURAS ★ Sem dúvidas, Poeta chileno foi o melhor livro que li esse ano. Ri muito, chorei na mesma proporção e terminei com a certeza de que quero ser padrasto!
MÚSICAS ★ Eu não poderia deixar de incluir aqui Esse é o Botafogo que eu gosto, da grande Beth Carvalho, a música que define um ano de vitórias históricas e momentos inesquecíveis pro meu time do coração.
FILMES ★ Em 2024, fui com a Ana para o CINEOP, o festival de cinema de Ouro Preto. Por uma feliz coincidência, em 2024 o evento homenageou o cinema de animação no Brasil, um gênero que gosto bastante. Por lá, assisti a algumas animações incríveis, como Novela, Bizarros peixes das fossas abissais e O projeto do meu pai. Valem demais!
Para os fãs de documentários, recomendo Capacetes coloridos, uma produção que, ao traçar um paralelo entre um canteiro de obras da USP na Zona Leste de São Paulo e o canteiro do mutirão da Associação Paulo Freire, ligada à União dos Movimentos de Moradia de SP, evidencia muitos dos conflitos sociais inerentes ao sistema capitalista.
LEITURAS ★ Em 2024, me enfiei em um processo seletivo de mestrado que me fez pausar temporariamente as leituras espontâneas, mas foi por conta dele que li aquele que se tornou meu favorito livro do ano. O mundo se despedaça, do nigeriano Chinua Achebe, é um romance de 1958 que nos mostra as complexidades e as violências possíveis das relações étnico-raciais no mundo contemporâneo. Uma história que, centrada em um protagonista honrado, narra a fragmentação da cultura ibo a partir do contato com o poder imperial britânico. Fica aqui uma menção honrosa pra Trilogia de Copenhaguen, uma leitura feita na virada de 2023 pra 2024 que seguiu me acompanhando.
MÚSICAS ★ É um absurdo Female Energy, da Willow Smith, não estar no Spotify. Se estivesse, ela certamente estaria há alguns anos no top 01 da minha retrospectiva. Finalmente, depois de alguns wrappeds, os Smiths foram desbancados por lá, e a música que mais ouvi em 2024 foi Carolina, Carol Bela, do Jorge Ben com o Toquinho, e não Well I Wonder ou Still Ill (e isso tem tudo a ver com esse ter sido um ano consideravelmente mais feliz)!
FILMES ★ Considerando os que vi pela primeira vez, Os incompreendidos (1959), do Truffaut, foi uma surpresa meio triste. Me compadeci pela história desse menino que é continuamente rejeitado pela família e pelas instituições, principalmente depois de ler em Abandonar um gato, do Murakami, que o próprio diretor sofreu com abandonos semelhantes:
"Ao ler a biografia do diretor francês François Truffaut, descobri que ele também foi separado dos pais na infância (praticamente rejeitado, como um estorvo) e criado por outra família. Como resultado, Truffaut perseguiu, por toda a vida, o tema do abandono em seus filmes. Todas as pessoas devem ter, em maior ou menor escala, experiências pesadas que não conseguem esquecer, mas que também não conseguem contar de verdade a ninguém, experiências com as quais viverão e morrerão, sem jamais narrá-las totalmente."
Exposições, projetos e cursos /// Pelo Brasil
São Paulo: Racionais MC’s - O Quinto Elemento no Museu das Favelas;
Rio de Janeiro: Atlântico Floresta no Museu de Arte do Rio;
Fortaleza: Delírio Tropical na Pinacoteca;
Salvador: O povo negro é o meu povo na Caixa Cultural Salvador;
Brasília: Nise: A revolução pelo afeto no CCBB;
Curso online: O Sesc São Paulo e a Casa Sueli Carneiro lançaram o curso Dispositivo de Racialidade totalmente gratuito;
Projetos: Conheça e apoie a Livraria Pulsa, a primeira livraria especializada em literatura LGBTQIAPN+ do Brasil.
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vocês são incríveis! parabéns pelo trabalho lindo <3
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