Inteligência artificial, arte e maternidade #05
Conversa com Mayara Ferrão e indicações sobre maternidade
Ei, tudo bem?
Vacilamos no atraso, mas chegamos em pleno dia das mães com a quinta edição da nossa news! Aqui, você vai ler desdobramentos do papo que tivemos com a artista soteropolitana Mayara Ferrão, também conhecida como @verdadetropical, e receber indicações de obras sobre maternidade que bagunçaram muita coisa dentro da gente.
Para não esquecer: a nossa edição do mês passado, sobre os 60 anos do Golpe Militar, está disponível aqui.
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👇 Abraços e boa leitura!
Diálogos /// Beatriz Vitório e Ana Pecis entrevistam Mayara Ferrão
Mayara Ferrão, nascida e criada no Bairro Garcia em Salvador (BA), região conhecida por sua efervescência cultural, é estudante de artes visuais na UFBA. Desde a infância demonstrou interesse pela arte, começando a desenhar desde muito cedo. Hoje, um de seus principais objetivos é retratar o afeto e a beleza presentes em suas relações pessoais e na cidade onde vive.
“É como se a gente, em Salvador, fosse alternando entre a mazela e o luxo, o lixo e a beleza. Tudo se confunde aqui nessa cidade.”
Mayara Ferrão se tornou @Verdade Tropical
“Eu precisava de um projeto que abarcasse tudo que eu criava visualmente pelo viés da ilustração e da pintura, já que meu perfil pessoal era mais voltado para o audiovisual. Timidamente, criei o Verdade Tropical, para me organizar mentalmente.”
Mayara trabalha com diferentes formas de expressão, incluindo artes plásticas, moda e audiovisual, e faz a utilização do seu perfil pessoal e profissional para organizar os projetos. Considerando sua arte muito íntima, ela valoriza o processo mútuo de contemplação, ao observar e ser observada.
Durante uma aula, Mayara ouviu de um professor: “Quando a criatividade aparecer, ela me encontrará trabalhando”. Partindo do desejo de querer ver e vivenciar diversas formas de afeto, ela embarcou em um projeto em que utiliza a inteligência artificial como meio de retratar a relação de mulheres negras e indígenas durante o período colonial.
“A inteligência artificial é interessante porque você começa a entrar naquela coisa de ‘e se?’. Parece que tudo é possível, então me veio essa vontade de representar duas mulheres nessa troca de afeto, porque dentro das minhas pesquisas de anos sobre fotografias de pessoas negras, indígenas e racializadas, é algo que eu nunca vi. A gente sabe que o povo preto era representado de uma forma totalmente desumanizada.”
IA a favor da arte
A presença de elementos da natureza em suas obras também é uma característica marcante, principalmente a relação com a água. A representação traz uma sensação de familiaridade com as obras, trazendo belezas e serenidades que encontramos na natureza.
“As narrativas que me interessam são também do Sagrado, da fé, dessa ligação das mulheres com as águas e não só das mulheres, mas do povo preto de modo geral.”
Como referências estéticas e de vida, a artista citou Rosana Paulino, Kika Carvalho, Heitor dos Prazeres e Walter Firmo, grandes nomes da arte afro-brasileira que abordam, com sensibilidade, a retratação de pessoas negras.
“Me interessa muito Rosana Paulino porque eu me identifico com ela nesse lugar de tecer histórias, de se interessar sobre os arquivos, sobre a reconstrução desses arquivos. Um processo de anarquivamento que esteticamente me interessa também.”
Aos leitores da news, Mayara deixou duas indicações: Coisas Bunitas, música da Sara Tavares, e Você lembrará seus nome, livro organizado por Lubi Prates com ilustrações suas.
HG indica /// Representações da maternidade
✵ As alegrias da maternidade (Ed. Dublinense): Diferente do título, o livro não é bem sobre as alegrias. Nnu Ego tinha grandes chances de ter um futuro incrível, mas após se casar com um homem que não conhecia, acaba enfrentando duras condições de vida para educar e sustentar seus filhos praticamente sozinha. Tradução de Heloisa Jahn. “Os homens… a única coisa em que estavam interessados era em bebês homens para dar continuidade a seu nome.”
✵ Um defeito de cor (Ed. Record): Kehinde conta sua história pessoal, desde sua infância até a velhice, uma história que vai sendo transcrita em forma de carta para ser entregue ao seu filho que foi tirado dela ainda quando criança. O romance trata sobre a luta por exercer a maternidade, encarando o abandono masculino, solidão, culpa. O livro mais sensível e emocionante de toda a minha vida. “(…) durante toda a vida, tive que lidar com duas sensações bastante ruins: a de não pertencer a lugar algum e o medo de me unir a alguém que depois partiria por um motivo qualquer.”
✵ A mulher de pés descalços (Ed. Nós): Scholastique retrata a história de vida da sua mãe, Stefania, durante o genocídio de 1994, em Ruanda. Ela destaca as dificuldades enfrentadas devido a violência étnica, e a luta de Stefania pela sobrevivência da família e das tradições culturais. O livro, originalmente escrito em francês, foi publicado no Brasil em 2017 pela editora Nós, com tradução de Marília Garcia. “Minha mãe tem somente uma ideia na cabeça, o mesmo projeto para todos os dias, uma única razão de viver: salvar os filhos.”
✵ Volver, dir. Pedro Almodóvar: Mães que ressurgem do mundo dos mortos, mães que matam para defender suas filhas. É tudo muito intenso, muito vermelho - e muito bom. Tem aquela coisa de que todo homem nos filmes do Almodóvar é um canalha, e toda mulher é meio diva. “Não sei porque, mas só atraio gente esquisita.”
✵ Mommy, dir. Xavier Dolan: O Dolan tinha 25 anos quando dirigiu Mommy, que aborda a relação caótica entre o adolescente Steve e sua mãe, Diane. Não é exatamente um filme de feliz dia das mães, mas é, definitivamente, um filme. “O mundo é um lugar onde há pouca esperança, mas gosto de pensar que está cheio de pessoas cheias de esperanças, de expectativas.”
✵ A filha perdida, dir. Maggie Gyllenhaal: Quando o livro homônimo de Elena Ferrante foi adaptado para o cinema por Maggie Gyllenhaal, que estreava como diretora, pipocaram resenhas e interpretações sobre a obra. Não fiquei de fora, e dei meus cinco centavos sobre o que tinha achado. Spoiler: vale a pena assistir, se ainda não viu, ou reassistir - agora longe do hype. Essa é a incursão pelas memórias e pelos traumas de uma mãe, que já foi filha. E tem a Olivia Colman. “O não dito fala mais do que o dito.”
Exposições /// Pelo Brasil
Salvador: Fanm Fò na Aliança Francesa Salvador (até 26/mai)
São Paulo: Um defeito de cor no SESC SP (até 1/dez)
Fortaleza: Aldemir Martins na Pinacoteca do Ceará
São Paulo: Mário de Andrade: Duas Vidas no MASP (até 9/jun)
Petrópolis: Dos Brasis no Sesc Quintandinha (27/out)
São Paulo: Maio Fotografia no MIS 2024
Rio de Janeiro: Hiromi Nagakura e Ailton Krenak no CCBB (até 27/mai)
O Rio Grande do Sul precisa do seu apoio /// Contribua agora
O Núcleo Jornalismo organizou um pacotão de links sobre como e onde ajudar na catástrofe que atinge o RS desde fins de abril. Dá para filtrar por categoria, e informar sua UF para facilitar na busca por iniciativas que estão mais próximas de você. No mundo dos livros, a Todavia Livros reuniu ações do mercado editorial cujo objetivo é arrecadar grana e doações para vítimas das inundações.
Acreditamos, sim, que “nós, os condenados da terra, temos apenas uns aos outros”, mas até quando isso bastará?
vocês arrasam mtttt, amei amei amei
amo 01 equipe talentosa e 01 news 😭