Ei, como andam as coisas por aí?
Chegamos na sexta edição da nossa news! Nela, vamos compartilhar nossa conversa com Izabela Ariza, criadora do projeto Salada Mística. Entre processos, universo criativo e referências, o lugar do sonho esteve presente em quase tudo o que falamos - os sonhos sonhados, mas também os projetados. Além disso, selecionamos obras visuais e leituras que nos trazem novas perspectivas sobre quem somos - e quem podemos ser - quando sonhamos.
Esse é o momento em que a gente lembra: a news passada tá aqui, pra quem quiser revisitar.
👇 Bora nessa?
Diálogos /// Ana Pecis conversa com Izabela Ariza
As palavras “Eu sou Izabela e eu sou arquiteta” foram as primeiras que Izabela Ariza, criadora do Salada Mística, proferiu ao se apresentar. Nascida na cidade de São Paulo em 1993, ela se formou na UNESP de Bauru entre 2019 e 2020, pesquisando sobre o programa de habitação federal Minha Casa, Minha Vida. Desde a graduação, sua veia artística influenciou a maneira que encarava a arquitetura e o urbanismo:
“Eu lutei pra minha pesquisa ter um caráter mais visual, um toque mais pessoal, com relatos e fotos de pessoas. Percebi que a carreira acadêmica não era pra mim porque eu tinha muito mais coração; foi algo que meu orientador falou: ‘você não pode defender algo porque ama, você tem que defender porque faz sentido’.”
Conheça o @salada.mistica
Com o emocional abalado após a faculdade, no auge da pandemia de COVID-19, Izabela passou meses com a criatividade adormecida, até que reviver o Salada Mística, um projeto criado durante a graduação, foi uma oportunidade de reviver também um sonho: trabalhar com produções. Daí, o projeto, que começou como um brechó, foi ganhando novos e diversos formatos: colagens, fotografia, jardinagem, ilustração, e até vitrine para a venda de camisetas. Nesse ínterim, Izabela ganhou também uma parceira, a Catarina.
"O problema era que a gente gostava muito mais de participar das produções fotográficas e de vídeo do que de todo o resto. A gente se esforçava pra fazer várias outras frentes, mas no fim de 2021, decidimos: ‘é isso, vamos fazer projetos audiovisuais e fotografias’.”
Izabela e Catarina modelando para o Salada na época do brechó
Como conciliar o sonho de viver da criatividade e a necessidade de pagar as contas? Com poucas referências de criadoras que monetizavam no mundo dos vídeos de arte para internet, com exceção das irmãs Zukeram (@twolostkids), Izabela e Catarina investiram em conteúdos autorais, alinhados com uma linguagem onírica, divertida e botânica. Em 2022, os rumos do projeto mudaram. Izabela, ao se ver sozinha novamente, encarou o desafio de encontrar um novo tom.
“Sinto que foi só nesse começo de 2024 que encontrei uma linguagem artística, uma voz, um tom que me sinto confortável.”
Tudo é uma possibilidade. Criar cenários, personagens, auras. Para isso, a multiartista mistura diferentes formas de linguagem para construir suas produções. A inspiração, por sua vez, também pode vir de qualquer lugar. Sonhos, memórias, estímulos da natureza.
O episódio piloto foi um sucesso, com mais de +400k visualizações no Instagram até o momento
Criando vídeos de arte para internet, Izabela se depara com as limitações impostas pelas plataformas: o algoritmo, o alcance, o perigo de se tornar um produto de si mesma. Por outro lado, investir no universo estético que criou é a forma como se mantém fiel ao caminho e a linguagem que vem construindo. O esforço criativo rendeu frutos e, hoje, o Salada Mística monetiza através de publicidades, já tendo trabalhado com marcas como Tinder, Sallve, Enjoei e Outback, além de fazer produções de vídeos para artistas e empresas.
“Me vejo como uma artista do meu tempo. Como outros artistas de outros tempos usaram recursos da sua época, eu uso os desse a minha disposição máxima.”
Aos leitores desta news, a artista deixou três indicações: os trabalhos de Agnes Varda e Georgia O'Keeffe, além do musical Pele de asno (1970), dirigido por Jacques Demy.
HG indica /// Sonhar mais um sonho
✵ O desejo dos outros: Uma etnografia dos sonhos yanomami, de Hanna Limulja: Quando li esse livro, percebi que os sonhos são uma parte fundamental da vida. Pra viver bem, é necessário sonhar e o sonho nada mais é do que a extensão do pensar. O trecho: “quem sonha apenas consigo nunca sai de si; e, nesse caso, o mundo se torna pequeno demais" me fez olhar com carinho o outro e pensar que um sonho coletivo impulsiona uma visão atenciosa sobre a vida, fazendo entender que as coisas bonitas vão para além do que se vê.
✵ 27, dir. Flóra Anna Buda: Dia desses, a @mubibrasil postou recortes lindos, coloridos e vibrantes de um curta disponível no catálogo do streaming, chamado 27. Ainda que com traços e propostas totalmente diferentes, não pude deixar de lembrar de Evangelion, um anime que adoro também pelas sensações que as cores me evocam. 27 é um curta animado, com produção francesa e sem interesse em separar sonho e realidade. Em 11 minutos que passam muito rápido, conhecemos Alice em seus devaneios policromáticos, anseios sexuais e frustrações juvenis.
✵ Um sonho, do Nação Zumbi: Gosto de pagar de cética, mas tenho uma relação meio mística com Um sonho, do Nação Zumbi. Lançada em 2014, foi uma das músicas que marcaram minha adolescência e isso, por si só, já seria o suficiente pra torná-la especial. Acontece que anos mais tarde firmei amizades que também gostam da música e, curiosamente, sempre que nos reunimos somos surpreendidas por ela, tocando em algum lugar. Um sonho dentro do sonho.
✵ O sono, de Pedro Gondim: Na primeira edição da nossa newsletter em 2024, conversamos com o pintor Pedro Gondim. Na ocasião, ele disse algo que me trouxe novos horizontes sobre os atos de ler e de sonhar. Para ele, pintar pessoas lendo estaria próximo de pintar pessoas dormindo, pois ambas dinâmicas manifestam a transição entre dois mundos. Estar lá, e estar aqui.
Trechos /// Os sonhadores
✵ A interpretação dos sonhos, de Sigmund Freud: “(…) todo sonho versa sobre o próprio sonhador. Os sonhos são inteiramente egoístas. Sempre que meu próprio ego não aparece no conteúdo do sonho, mas somente alguma pessoa estranha, posso presumir com segurança que meu próprio ego está oculto, por identificação, por trás dessa outra pessoa; posso inserir meu ego no contexto. Em outras ocasiões, quando meu próprio ego de fato aparece no sonho, a situação em que isso ocorre pode ensinar-me que alguma outra pessoa jaz oculta, por identificação, por trás de meu ego. Nesse caso, o sonho me alertaria a transferir para mim mesmo, ao interpretá-lo, o elemento comum oculto ligado a essa outra pessoa. Há também sonhos em que meu ego aparece juntamente com outras pessoas que, uma vez desfeita a identificação, revelam-se mais uma vez como meu ego. Essas identificações então me possibilitariam pôr em contato com meu ego certas representações cuja aceitação fora proibida pela censura. Assim, meu ego pode ser representado num sonho várias vezes, ora diretamente, ora por meio da identificação com pessoas estranhas. Por meio de várias dessas identificações torna-se possível condensar um volume extraordinário de material do pensamento. O fato de o ego do próprio sonhador aparecer num sonho várias vezes, ou de várias formas, não é, no fundo, mais marcante do que o fato de o ego estar contido num pensamento consciente várias vezes ou em diferentes lugares ou contextos - por exemplo, na frase ‘quando eu penso em como eu fui uma criança sadia…’”.
Exposições /// Pelo Brasil
Brasília: Ilhó - Mostra de novus artistas n’A pilastra (até 26 de junho);
São Paulo: Resistência já! no Museu de Arqueologia e Etnologia da USP;
Rio de Janeiro: Funk no MAR (até 24 de agosto);
Salvador: Nhe´ ẽ Se na Caixa Cultural (até 04 de agosto);
Brasília: Hiromi Nagakura e Ailton Krenak no CCBB (até 18 de agosto);
Fortaleza: Do ponto ao patrimônio no MIS-Ceará (até julho).
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mais uma news de sucesso! trazer a Iza foi uma escolha maravilhosa :)
amei ter esse papo com a Iza!